O Cavaleiro da Morte – Crônicas Saxônicas #2 – Bernard Cornwell – Os Vikings Contra-Atacam! #nitroblog

Mais um golpe de machado bem certeiro do Bernard Cornwell. Nesse segundo livro da série Crônicas Saxônicas conta a história da luta de Rei Alfred contra a invasão dinamarquesa (os nórdicos ou “vikings”) durante o século 9, e sua busca pela unificação da Inglaterra. No primeiro livro, os Dinamarqueses já tinham derrotado a Nortúmbria, a Anglia do Leste e Mércia. Em seguida, os Dinamarqueses quebraram uma trégua na guerra, e o reino de Alfred se reduziu a uma área de pântanos fedorentos conhecida como Somerset.

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O Cavaleiro da Morte mostra, com detalhes, um mundo em transição, passando da selvageria da baixa idade média, para um mundo mais organizado e coeso da alta idade média. O conflito de identidade da criação da Inglaterra segue se espelhando no conflito de identidade de Uhtred

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Com a ajuda do protagonista Uthred, etermanente dividido entre sua lealdade ao seu sangue saxão ou à cultura pagã dinamarquesa , Alfred o Grande busca vencer os dinamarqueses em uma batalha definitiva, a famosa batalha de Ethandun em 878 AD (Anno Domini).

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Mais uma vez, Cornwell brilha nas descrições das batalhas, colocando o leitor no meio da pancadaria, em meio ao caos do combate, em meio aos insultos, o choque dos escudos, o som dos espadas e machados, o cheiro de entranhas e sangue derramado, os terríveis ferimentos e as mortes brutais.

Uma das características que mais admiro em Cornwell é como ele equilibra perfeitamente a narrativa com a informação histórica, preenchendo as cenas com uma riqueza de detalhes impressionante, ao mesmo tempo que mantém a narrativa se movendo com energia e fúria, mantendo o tempo todo a atenção do leitor.

Bernard Cornwell, como todo novelista histórico, toma liberdades com a história. Ao colocar Uhtred como o protagonista e mecanismo de Ponto de Vista Narrativo, ele tornou Alfred, uma figura histórica impressionante, como um personagem mais secundário, não tão brilhante e genial quanto a sua descrição história nos faz pensar, um rei extremamente culto e hábil na formação de alianças e no jogo político.

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Outro ponto que me incomodou um pouco é o tratamento superficial dado a religião católica na série, até agora. Os padres e bispos são bem esteriotipados, sem nenhuma nuance mais realista. Com padres assim, como os saxões foram convertidos em massa durante a baixa idade média? Como a narrativa é limitada pelo ponto de vista de um guerreiro pagão que odeia a religião católica, apenas os aspectos negativos são ressaltados.  A vantagem da cristianização na formação da Inglaterra e um dos motivos pela adesão em massa dos saxões após 600 DC , segundo alguns historiadores, foi a unificação das diversas tribos em uma narrativa. Sem a disparidade e variedade de cultos do paganismo, as práticas cristãs criaram, entre os saxões, um padrão organizador, uma cultura em comum e a criação de uma identidade que prevaleceria acima das divergências tribais.  E para tanto, os padres que lideraram a cristianização eram dotados de grande habilidade política, de retórica e de convencimento, muito além de simples fanáticos parasitas como são descritos tanto no Último Reino quanto no Cavaleiro da Morte.

Tirando esse aspecto eu AMEI o livro, Cornwell é imbatível em cenas de batalha e em mergulhar em um ponto de vista muito diferente do nosso mundo contemporâneo. Utrhed, que me incomodou com sua arrogância desmensurada no primeiro livro, amadurece mais nesse livro. Como escritor, um dos maiores desafios é criar arcos realistas de personagens, mudanças psicológicas de acordo com as experiências que o protagonista vive. A prosa de Cornwell é uma aula de arco de personagem, recomendo ler e estudar como ele transforma Uthred de um jovem arrogante em um adulto que começa a perceber suas próprias limitações.

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A narrativa é boa pra caray, flui como uma espada viking entrando na barriga de um saxão, lisinha, doidimais. Cornwell é que nem o Salvatore, para mim, caio de cabeça em seus livros sem medo, diversão garantida (e no caso de Cornwell, uma lição de história doidimais!). Recomedo!

Ps.: Li o livro em inglês.

Agora, para a próxima resenha, decidi reler o clássico Duna, de Frank Herbert, para estudar suas técnicas narrativas. Herbert é outro autor que considero perfeito, um mestre da exposição de cenário (uma habilidade vital para quem escreve Ficção Científica e Fantasia).

E vamos continuar lendo porque ler é DOIDIMAIS!

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6 comentários

  1. Ainda não li esse segundo livro. Comecei a série logo depois de terminar as Crônicas de Artur e me desmotivei porque me pareceu muito “mais do mesmo”. E me lembrou bastante os livros do Angus, do brasileiro Orlando Paes Filho. Mas estou pensando em dar outra chance a série. Bernard Cornwell realmente é um autor foderoso, que não deveria ser deixado de lado.

    Sobre a arrogância. Deve está relacionada a Soberba ser considerada uma virtude antes da popularização do cristianismo. Não tenho certeza sobre o oriente, acho que lá sempre foi um defeito, mas entre os vikings e os romanos principalmente era uma qualidade.

    • Valeu pelo comentário! 🙂 Cornwell é muito bom, mesmo focando nos mesmos temas, ele tem muita habilidade como escritor em unir ficção com acontecimentos históricos. E essa série está ficando cada vez melhor a cada livro que leio. Um abraço!

  2. A subida do morro de Ethandun é épica, um negócio tão foda que dá vontade de largar o livro e ir até o armário pegar a espada e o escudo pra ajudar o Uhtred.

    OBS: Não se preocupe se o 3º livro não mantiver o mesmo nível dos dois primeiros, eu achei Os Senhores do Norte o mais fraco dos sete lançados até o momento, mas o 4º já recupera tudo novamente.

    O destino é inexorável.

  3. Também li os livros de Bernard Cornwell: The Last Kingdom e agora estou quase na metade do The Pale Horseman. Muito boa sua resenha, só não concordei, até agora, com a afirmação de que Uthred está menos arrogante, vou descobrir logo.

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