NitroDicas 15 – Emoção e Monólogo Interior – Elementos da Trama 7 #dicasparaescritores

Continuando a série de NitroDicas para Escritores Iniciantes sobre os Elementos da Trama, nesse vídeo falo sobre a necessidade de separar o momento de Criação (que deve ser livre e solto) do momento de Edição e Reescrita (que deve ser racional e de cabeça fria). Também falo de como descrever Emoção e Monólogo Interior, passando as sensações fisiológicas e os pensamentos do seu personagem ponto de vista (ou foco narrativo).

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NitroDicas 15 Emoção e Monólogo Interior (PDF)

É o mesmo texto que está mais embaixo no post.

NitroDicas 15 – Emoção e Monólogo Interior – Elementos da Trama 7

1. Sobre as Dicas para Escritores Iniciantes

* Separar o momento de Criação do momento de Edição e Reescrita.

* Aprendemos a escrever mais na reescrita do que na escrita em si.

* Dicas, técnicas, sugestões servem mais para clarear na hora da edição, acelerar o desenvolvimento do texto. Mas são sugestões, que servem mais de inspiração, não são regras em si. Crie livremente.

* A melhor maneira de aprender essas técnicas é ver elas em ação em livros de escritores habilidosos. Nada substitui o combo escrever muito, ler muito, reescrever muito.

2. Emoção Interior.

* São as sensações fisiológicas (corporais) que um personagem sente quando está sob o controle de emoções poderosas.

* Atualmente, é mais em voga MOSTRAR do que CONTAR as emoções interiores que um personagem sente.

Ex.

Frodo está com medo (CONTAR).

O coração de Frodo acelerou, suas mãos ficaram frias e ele sentiu sua garganta secar (MOSTRAR).

* Você só mostra Emoção Interior do Personagem Ponto de Vista, seja em terceira pessoa limitada ou média, ou em primeira pessoa. Em Ponto de Vista Onisciente, os mestres mostram a Emoção Interior normalmente no personagem foco da narrativa em determinado momento.

* Exemplo:

Uma bola quente de adrenalina se formou em sua barriga (emoção interior). Aquela voz. Frodo conhecia aquela voz. Mas de onde? (monólogo interior indireto). Frodo se vira para olhar (reação exterior.

* Sempre se pergunte, em uma cena “O que o meu personagem sente fisicamente? O que ele cheira? O que ele toca? Que gosto ele tem em sua boca?” etc.

* Não é para abusar dessa técnica, aliás, de nenhuma técnica. Reservar para momentos importantes, cenas relevantes para a narrativa.

* Foque em respostas fisiológicas involuntárias. Pergunte: O que acontece com as mãos do personagem? Com sua pele? Com sua barriga? Com seus braços? Seu pescoço? Seu rosto? Que metáfora ou símile você pode usar para recriar essa sensação? (ou frio como a pele de um cadáver, suando como um porco em uma sauna, etc.).

* Procure MOSTRAR a emoção sem NOMEAR a emoção. Exemplo: “suas pernas tremeram, sua boca secou, seus dedos pareciam pedras de gelo” ao invés “ele ficou com medo”.

* Emoção Interior aumenta a imersão, colocando o leitor dentro da pele do personagem ponto de vista.

* O termo Emoção Interior parece contraditório, mas é feito para diferenciar da Emoção Exterior, que é o que acontece com os outros personagens que não são o personagem ponto de vista.

* Leia livros de escritores feras e circule os momentos em que eles mostram emoção interior de seus personagens pontos de vista.

3. Monólogo Interior

* São os pensamentos do seu personagem ponto de vista.

* Se são muito curtos, chamamos de internalização.

* São usados (junto com os diálogos) para mostrar a “voz” do seu personagem, o jeito dele ver o mundo, a sua maneira peculiar de ver e interpretar o mundo. Deve refletir o personagem, ser facilmente indentificável e diferente do texto de outros personagens POV que existam na narrativa. George R.R. Martin é um mestre em monólogos interiores, recomendo ler e estudar o texto dele.

* Monólogo Interior deve ser feito dentro da Voz do personagem, com sua sintaxe, vocabulário, etc.

* Em monólogos interiores os personagens devem dizer a verdade para si mesmo, mesmo se eles estiverem se auto enganando. Monólogo Interior é uma visão dentro da alma do personagem, o personagem fica nu para o leitor.

* Filmes de detetive do estilo noir são um exemplo cinematográfico do monólogo interior. É um modo de entrar dentro da cabeça do personagem e uma ferramenta poderosa para o escritor criar imersão,fazer exposição (passar as informações necessárias para o leitor entender a história).

* Quanto usar? Depende da narrativa. Quanto mais monólogo interior, mais exploração psicológica, mas o ritmo da narrativa diminui. Quanto menos, mais velocidade da narrativa mas menos exploração psicológica.

* Assim como com o diálogo, existe três tipos:

 

1) Monólogo Interior Direto

* E quando você coloca exatamente as palavras do pensamento do personagem POV, uma técnica de MOSTRAR).

Ex.:

“Morre diabo!” pensou enquanto enfiava a peixeira no bucho do desgraçado.

(com itálicos) Morre diabo pensou enquanto enfiava a peixeira no bucho do desgraçado.

Ou

“Morre diabo!”

E cravou a peixeira no bucho do desgraçado.

ou

Morre diabo!

E cravou a peixeira no bucho do desgraçado.

* No monólogo interior direto, pode-se usar itálicos (o que está na moda atualmente) para falar dos pensamentos, colocar entre aspas (norma brasileira) ou até mesmo colocar direto, sem marcadores, o que é muito comum em romances de cunho mais literário. As vezes o “pensou” é desnecessário.

2) Monólogo Interior Indireto

* Dá a idéia do pensamento, mas se narra indiretamente, uma técnica intermediária entre MOSTRAR e CONTAR.

* Você coloca o texto no passado (se a narrativa for toda em tempo passado).

Ex.:

O cara tinha que morrer, pelo que tinha feito com sua filha. Ele tinha que morrer agora. José agarrou a peixeira e cravou no bucho do desgraçado.

* Você usa o Monólogo Interior Indireto quando você quer explicar ou expor para o seu leitor mais informações sobre a narrativa, sobre o contexto, sobre o passado do personagem, sobre suas emoções, etc.

3) Monólogo Interior Sumarizado

* Uma técnica de CONTAR o que se passa dentro de um personagem.

* Exemplo:

Nos últimos meses José pensou em como iria matar o assassino de sua filha. E quando ele conseguiu matá-lo, enfiando uma peixeira em sua barriga, José estranhou pois não sentia nenhum tipo de alívio. Ele não sentia mais nada.

Exemplo de George R.R. Martin, um trecho pequeno do Tormenta das Espadas:

Torta Quente partiu, e Arya largou as cenouras e puxou a espada roubada por sobre o ombro. Tinha prendido a bainha nas costas; a espada fora forjada para um adulto, e batia no chão quando ela a usava na cintura. Além disso é pesada demais, pensou, sentindo falta da Agulha, como acontecia sempre que pegava naquela coisa desajeitada. Mas era uma espada, e podia matar com ela, isso bastava.

Ligeira, correu para o grande e velho salgueiro que crescia ao lado da curva da estrada e caiu sobre um joelho entre a grama e a lama, no interior do véu de ramos que roçavam o chão. Oh, velhos deuses,rezou enquanto a voz do cantor se tornava mais forte, oh, deuses das árvores, escondam-me, e façam com que passem por mim. Então, um cavalo relinchou e a voz interrompeu-se subitamente. Ele ouviu,compreendeu, mas talvez esteja sozinho, ou, se não estiver, talvez tenham tanto medo de nós como nós temos deles.

Trecho identificando as técnicas:

Torta Quente partiu (estímulo exterior), e Arya largou as cenouras e puxou a espada roubada por sobre o ombro (reação exterior). Tinha prendido a bainha nas costas; a espada fora forjada para um adulto (internalização), e batia no chão quando ela a usava na cintura (mistura de reação exterior e emoção interior). Além disso é pesada demais, pensou (monólogo interior direto), sentindo falta da Agulha, como acontecia sempre que pegava naquela coisa desajeitada (monólogo interior indireto). Mas era uma espada, e podia matar com ela, isso bastava (monólogo interior indireto).

Ligeira, correu para o grande e velho salgueiro que crescia ao lado da curva da estrada e caiu sobre um joelho entre a grama e a lama, no interior do véu de ramos que roçavam o chão (continuação da reação exterior). Oh, velhos deuses (monólogo interior direto) rezou enquanto a voz do cantor se tornava mais forte (estímulo exterior), oh, deuses das árvores, escondam-me, e façam com que passem por mim (monólogo interior direto, em itálico no original). Então, um cavalo relinchou e a voz interrompeu-se subitamente (estímulo exterior). Ele ouviu (monólogo interior direto),compreendeu, (internalização) mas talvez esteja sozinho, ou, se não estiver, talvez tenham tanto medo de nós como nós temos deles. (monólogo interior direto).

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Contato

prof.newtonrocha@gmail.com

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REFERÊNCIAS:

Revision And Self-Editing (Write Great Fiction) – James Scott Bell

 

Writing Fiction For Dummies [Kindle Edition] – Peter Economy (Author), Randy Ingermanson (Author)

 

Elements of Fiction Writing – Scene & Structure [Kindle Edition]

Jack Bickham (Author)

 

George R. R. Martin

http://pt.wikipedia.org/wiki/George_R._R._Martin

 

 

 

10 comentários

  1. Olá, Newton Nitro.
    Desta vez, vou direto ao assunto. Embora o assunto seja extenso:

    Tenho facilidade em aprender e assimilar coisas. E, talvez, por conta disso, seja muito mais difícil, para mim, fugir dos conhecimentos técnicos. Eu conheço, e costumava usar, muitas outras fórmulas além dessas que você citou. E os meus interesses também não se limitavam somente a elas, eu me preocupava demasiadamente com o ritmo, o vocabulário, as figuras de linguagem, a coerência, a coesão, a intenção, o clima, a estética, e centenas de normas pessoais que eu mesmo ‘desenvolvi’ analisando outros artistas. O meu problema, enfim, era que eu me lembrava de TUDO na hora de escrever. O Lado Editor bombardeava o Lado Criador com uma chuva de críticas a cada nova sentença. Uma espécie de bullying! Meu Lado Criador estava angustiado, sofrendo de baixa autoestima. O que me levava constantemente à pergunta mortal: “por que estou perdendo tempo escrevendo essa frase/ parágrafo/ cena/ capítulo, se eu já sei que vou cortá-la(o) na edição?”

    E depois de um esforço sobre-humano para terminar a primeira versão, chegava o momento da reescrita. Então, outro problema: eu me encantava com ideia de que poderia escrever algo absolutamente esmerado, que pudesse servir de exemplo para todas as técnicas que existem, de modo que escrevi e descartei muitos livros e contos semifinalizados porque, honestamente, não haviam chegado nem perto de atingir esse estado de perfeição. Não por falta de habilidade, mas porque, creio eu, algumas coisas simplesmente são incompatíveis.

    Caso você saiba das mesmas coisas que eu sei, imagino que tenha a extraordinária vantagem de conseguir filtrar o que conhece. Eu não tenho. Eu absorvo tudo. Percebo as semelhanças e singularidades dos métodos que utilizo e, muitas vezes, não resisto à tentação quimérica de tentar combiná-los. É loucura, eu sei. E isso me limita bastante, mas, felizmente, estou conseguindo me livrar dessa mania. Porque sei que não é isso que eu quero para minha vida, o que eu quero é ser um escritor produtivo e diversificado. Só isso já é o bastante.

    Tentei seguir os seus concelhos; e sei também que você só estava se repetindo (como eu disse, acompanho o blog há muito tempo), mas serviu para me autoafirmar. Estou reaprendendo a me expressar artisticamente. Apesar disso, logo percebi que eu tinha perdido a capacidade de escrever só por impulso. Preciso de uma estrutura para trabalhar, e a maneira que encontrei para resolver essa questão foi me voltar para o essencial, para o básico do básico, o estilo simples, sem sofisticação. Mas ainda não sei o que vai me acontecer depois, quando eu terminar a primeira versão do trabalho que comecei desde então. Mas espero conseguir reescrever até que fique “bom o suficiente”, e, em seguida, partir para o próximo projeto.

    Obrigado, mais uma vez, por sua atenção.

  2. Sobre as emoções, é bem simples. É só o autor pensar que a focalização é Interna para a personagem cujo Ponto de Vista está sendo retratado na cena, e Externa (narrador-câmera) para as demais.

  3. Acho que Harry Potter e A Pedra Filosofal é um exemplo de livro quase totalmente escrito em Terceira Pessoa Limitada. Isto é, narrador heterodiegético com focalização interna e restritiva.

    • Sim, só que em algumas partes a própria Rowling quebra o ponto de vista limitado. Mas quando ela faz isso, é para dar uma contextualização de uma cena seguinte, como se fosse uma câmera panorâmica que depois foca no personagem.

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